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A gravura a serviço das causas sociais

La venganza de los pueblos,

de Leopoldo Méndez

Leopoldo Méndez (1902-1969)

La Venganza de Los Pueblos / Homenaje al Heroico Ejército de Guerrilleros Yugoslavos, c. 1940

Xilogravura, 41,91 x 27,94 cm

The Los Angeles County Museum of Art

Lo determinante en una obra de arte es algo mucho más grande, se haga con colores o con lo que sea. Lo que quiero es que el mundo sea mundo, aun en el mejor hay drama y hay muchas cosas más. Y para que el drama no se convierta en tragedia debe haber amor en el arte que refleja. Si el arte se solaza sólo en los colores o en la superficie colorida de las cosas, entonces se avecina la tragedia, la tragedia del artista y de su obra, se avecina la indigencia del arte. Caer, por otro lado, en la tragedia, negra o rosa, equivale a la derrota de cualquier artista por muy pintor que sea. Los artistas debemos preocuparnos porque la forma, el color y el mensaje (es decir, el contenido) marchen juntos. Ninguna de esas cosas debe adelantarse o atrasarse respecto de las otras (MÉNDEZ, 1955).

A citação acima proveio de apontamentos do artista mexicano Leopoldo Méndez, de 1955, acerca do cenário artístico do seu país. Esse trecho revela a concepção de arte que guia toda a sua trajetória, cujo fundamento está na maestria do artista em utilizar a técnica e a criatividade a serviço de representar a realidade e os anseios do povo. Seu trabalho refletiu sua ideologia esquerdista, sua preocupação em apontar as mazelas sociais e ser uma “arma” de militância política. A gravura La Venganza de Los Pueblos (cerca de 1940), ou Homenaje al Heroico Ejército de Guerrilleros Yugoslavos, trata, justamente, de um tema importante no período, os conflitos da Segunda Guerra Mundial. A campanha contra a ideologia nazista ganhou diversos adeptos entre os artistas comunistas.

 

Leopoldo Méndez (1902–1969) iniciou sua formação artística aos 15 anos de idade na Escola Nacional de Belas Artes. Em 1920, ingressou na Escola de Pintura ao Ar Livre, de Alfredo Ramos Martínez, e publicou seus desenhos, pela primeira vez, na revista Zig Zag. No ano seguinte, fez parte da constituição do grupo Estridentista, liderado por Manuel Maples Arce, realizando ilustrações de viés modernista para a publicação do movimento Irradiador. O artista admitiu que a inspiração, naquela época, vinha dos muralistas, principalmente Diego Rivera, quem havia trazido para o México elementos da estética cubista (TIBOL, 2002). Méndez colaborou com diversos periódicos, entre os quais a Horizonte, de Maples Arce; Norte, uma revista cultural; 30-30; El Sembrador, do Partido Nacional Revolucionário; El maestro rural. Esses dois últimos exemplos eram publicações destinadas a auxiliar o professor rural, lançadas quando Méndez participava das Missões Culturais da Secretaria da Educação Pública em 1929 (PÉREZ, 2011).

 

Sua militância política é notável desde o começo de sua trajetória. Pode-se citar sua participação, em 1929, do Salón de la Unión de Trabajadores de la Compañía Terminal, organizado pela Liga Antiimperialista de las Américas, evento que visava denunciar o assassinato do líder cubano Julio Antonio Mella e apoiar o projeto de Augusto César Sandino para Nicarágua.

 

No ano de 1930, Méndez viaja para os Estados Unidos na companhia de Carlos Mérida. Na Califórnia, os dois artistas expuseram seus trabalhos, e Méndez publicou ilustrações em The god in Exile. Dois anos depois, ele foi nomeado chefe da Seção de Desenhos do Departamento de Belas Artes (PÉREZ, 2011; TIBOL, 2002). Sobre sua visão do cenário do período, Leopoldo Méndez disse em uma entrevista à jornalista Elena Poniatowska, republicada em 2002:

Cuando regresé de las Misiones Culturales empecé a conocer más a fondo los grabados de José Guadalupe Posada mediante la revista que Frances Toor publicaba: Mexican Folkways. También Gabriel Fernández Ledesma dirigía otra revista muy buena: Forma. Tuve conciencia del movimiento artístico que se desarrollaba en México con gran fuerza. Se habló entonces mucho de Posada como de un precursor del movimiento muralista mexicano aunque, como se verá, éste fue años más tarde de que aquél se iniciara. Desde esas épocas, en la medida de mi capacidad de producción, he colaborado en casi toda publicación avanzada, fuera política o simplemente cultural. Mis estímulos han sido en gran parte las agrupaciones de artistas en las que se trabaja con miras muy amplias, cuál debe ser. Cuando éstas dejan de ser así las he dejado o simplemente me he alejado. (MÉNDEZ apud PONIATOWSKA, 2002).

A Liga de Escritores y Artistas Revolucionários (LEAR) é fundada em 1933, cuja revista Frente a Frente teve a colaboração de Leopoldo Méndez, Luis Arenal e Pablo O´Higgins. Esse periódico apresentava fotografias e fotomontagens de viés construtivista (ADES, 1997). Segundo o autor Enrique Martínez Pérez (2011), esses três artistas ficaram insatisfeitos com a baixa produtividade do seu setor na LEAR e resolveram torná-lo independente com a criação do Taller de Gráfica Popular, em abril de 1937.

 

O TGP anuncia em sua carta de princípios que seus esforços se concentrariam nos interesses progressistas e democráticos, como também na luta contra o fascismo. O Taller se compromete a ajudar organizações de trabalhadores, movimentos e instituições defensores das mesmas causas. Sua posição era de crítica ao imperialismo e ao modo de produção capitalista. Durante a Segunda Guerra Mundial, o TGP teve um papel importante ao trazer a público as crueldades dos regimes nazifascistas, mesmo antes do México entrar no conflito ao lado dos aliados, em 1942. Os artistas também se preocuparam em empregar seu trabalho na denúncia dos problemas da sociedade mexicana.

 

Na xilogravura La Venganza de Los Pueblos (1940), tem-se a representação de uma multidão se dirigindo, furiosamente, contra Hitler, ajoelhado e, ao que parece, estrangulando crianças. A figura do ditador alemão é caricata e mescla características humanas e animalescas. Seus braços têm penas e culminam em garras impiedosas que agarram suas pequenas presas pelo pescoço.

 

Um homem ergue um machado na direção dos responsáveis pelos males da guerra mostrados no canto inferior direito da cena – enforcamentos, cadáveres amontoados, prédios e vegetação em chamas. A composição é bastante dinâmica, o olhar a percorre de modo a adivinhar como culminará ação do personagem masculino centralizado. A esquematização dos elementos alude o modo como os muralistas, grande inspiração de Méndez, elaboravam suas obras – várias cenas são mostradas concomitantemente, mas é possível distingui-las e compreender o que se passa.

 

Essa gravura também recebe o título Homenaje al Heroico Ejército de Guerrilleros Yugoslavos e identificada, por Elena Poniatowska (2002), como uma linóleo de 1942. Segundo a professora de História da Arte Dawn Ades (1997), Méndez pleiteava a favor do uso da linóleo e da xilogravura pelo seu baixo custo em relação a gravura em metal. Porém, a chapa de linóleo era a preferida por possibilitar uma grande tiragem, por sua flexibilidade e por permitir que sua superfície seja explorada na sua totalidade devido à facilidade da feitura de variadas marcas, padrões e, por conseguinte, de tons e texturas, dando espaço para a criatividade artística.

 

Seja qual for, de fato, a técnica aplicada por Leopoldo Méndez nessa gravura, são admiráveis as diferentes tonalidades, de luz e de texturas que obteve, principalmente, na representação do panejamento da camisa e da pele da figura central. As bordas da cena são sombreadas. Tudo parece estar tomado pelas labaredas, que atribuem uma forma circular à composição. Os personagens da multidão são retratados de tal forma que parecem se mover com rapidez. Tem-se uma grande linha diagonal formada pelo homem com o machado, e as figuras, à sua frente, trazem armas em angulação semelhante, o que reforça a impressão de que avançam para a esquerda, na direção do ditador alemão.

 

A Iugoslávia se protegia das investidas do Eixo com uma resistência armada interna. O país teve sua Revolução Social, liderada pelo marechal Tito, através da atuação das guerrilhas. Contraditoriamente, a vitória comunista ocorreu a contragosto da URSS, pois Stalin desencorajava iniciativas autônomas de chegada ao poder. Confirmou-se que a solidez do bloco estava ameaçada quando Tito rompe com a União Soviética, em 1948 (HOBSBAWN, 1995).

 

Provavelmente, o interesse maior de Méndez era fazer uma obra que delatasse a guerra e seus promotores, exaltando o poder de reação do povo contra seus algozes. As deliberações do Partido Comunista Soviético não impediam que Méndez apoiasse a iniciativa dos camaradas iugoslavos. Aliás, as restrições e as diretrizes que a URSS queria impor aos intelectuais militantes, não direcionaram a trajetória de Méndez, sendo que ele saiu do Partido Comunista Mexicano em 1946 e aderiu a outras associações (PÉREZ, 2011).

REFERÊNCIAS

 

ADES, Dawn. Arte na América Latina: a era moderna, 1820-1980. São Paulo: Cosac & Naify Edições,  1997.

 

HOBSBAWN, Eric. Era dos Extremos: o breve século XX: 1914-1991. Tradução Marcos Santarrita; revisão técnica Maria Célia Paoli. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.

 

PÉREZ, Enrique Martínez. Leopoldo Méndez, grabador mexicano. Revista Trabajadores, Ciudad de México, jan./fev. 2011. 

 

PONIATOWSKA, Elena. Leopoldo Méndez – cien años de vida. La Jornada, México D.F., 23 de maio de 2002. Disponível em:

<http://www.jornada.unam.mx/2002/05/23/02aa1cul.php?origen=index.html>

<http://www.jornada.unam.mx/2002/05/25/05aa1cul.php?printver=1>

<http://www.jornada.unam.mx/2002/05/24/07aa1cul.php?printver=0>

Acesso em: 24 jan. 2016.

 

TIBOL, Raquel. Expediente – Leopoldo Méndez. La Jornada Semanal, n. 389, agosto/2002. Disponível em: <http://www.jornada.unam.mx/2002/08/18/sem-tibol.html>

Acesso em: 24 jan. 2016.

 

Fonte da imagem:

The Los Angeles County Museum of Art : http://collections.lacma.org

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